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NOTA DE REPÚDIO AO CORTE ORÇAMENTÁRIO DO MEC

NOTA DE REPÚDIO AO CORTE ORÇAMENTÁRIO DO MEC

No dia 26 de abril, o Presidente Jair Bolsonaro anunciou, pelo Twitter, que o novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, “estuda descentralizar investimentos em faculdades de filosofia e sociologia (humanas)”, com o objetivo de focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte. Em seguida, o Ministério da Educação (MEC) anunciou um corte geral de 30% nos orçamentos de todas as universidades federais. Contudo, ainda não está claro como seria feito o corte específico nas áreas de humanidades e ciências sociais.

É fato que os investimentos em educação e cultura têm sido um problema no país. Neste cenário, a perda de espaço das Ciências Humanas e Sociais, em relação às outras áreas, é significativa, inclusive em função de um discurso corrente de que as Humanas não produzem “tecnologias produtivas” que retornem, de imediato, à sociedade bens e serviços, pela ótica do mercado. É clara, para muitos de nós, a adoção de um modelo de educação mercantilista que prioriza a relação entre conhecimento, formação profissional e mercado para fins da promoção de bens e serviços. A importância das Ciências Humanas deve ser ressaltada permanentemente, e nesta crise da educação, o seu valor é inquestionável, pois é também papel de pesquisadores das Humanas compreender tal fenômeno, refletir sobre práticas pedagógicas, questionar a qualidade da educação ofertada, propor melhorias, enaltecer a cultura e a arte, dentre outras ações. Isso, em conjunto com as demais áreas. Essa reflexão crítica, que está no cerne das universidades públicas brasileiras, é importante inclusive para que esta “crise” da educação não produza efeitos em outros setores.

As Ciências Humanas e Sociais estudam desde o pensamento humano a todos os fatores da organização social. Por isso, têm uma abrangência significativa, passando por áreas como filosofia, sociologia, educação, linguística, literatura, comunicação social, economia, administração, políticas sociais, políticas públicas, direito, geografia, história e arte, por exemplo. Oferecem uma formação que vai além daquela voltada para o trabalho produtivo. A área de Humanas busca desenvolver no estudante o senso crítico, para que atue compreendendo conceitos sobre ética e de forma consciente seus deveres e direitos – não só os seus, como das demais pessoas e do ambiente. Espera-se que a atuação do estudante da área de Humanas contribua com uma sociedade mais justa, democrática, emancipatória e respeitadora do meio ambiente e dos direitos sociais e humanos. Daí a importância de outras áreas também estudarem os conteúdos que constituem o escopo das humanidades. Subjugar a importância dessas áreas é diminuir a existência da Ciência em si – basta lembrar que os filósofos da antiguidade também avançaram nas demais áreas do conhecimento. Desde a Antiguidade, a humanidade dispõe dessas ciências para tentar desvendar quem ela é, de onde veio e para onde vai.

Diante de um cenário político como esse, sentimo-nos na obrigação de manifestar nossa indignação e disposição para lutar contra essas medidas que deixam claro o posicionamento ideológico e preconceituoso do atual governo. Afinal, os cursos de ciências sociais e humanas são os que mais concentram diversidade racial tanto em universidades públicas quanto privadas, segundo dados do Censo Nacional do Ensino Superior de 2017. O Brasil é reconhecido por suas cruéis desigualdades econômicas e sociais. Sabemos bem da dificuldade de muitos que, sempre frequentaram escolas públicas e tiveram que lutar muito para conquistar uma vaga numa universidade pública e de qualidade.

Na UFV – Viçosa há 16 cursos de graduação nas áreas das Ciências Humanas, Sociais, Letras e Artes, além de oito programas de mestrado e dois de doutorado, vinculados a 11 departamentos. Esses departamentos são responsáveis não apenas pela formação de profissionais qualificados; várias disciplinas são ministradas a estudantes de todas as áreas da Universidade. Ainda, os cursos e projetos realizam estudos que embasam políticas públicas; atividades recreativas, lúdicas e de formação humana e social em prol de Viçosa e região.

O CCH sempre atuou em prol do desenvolvimento crítico e cidadão de nossos alunos. Falar do conceito de cidadania se faz necessário nesse momento especialmente conturbado pelo qual passamos. Como não expressarmos nosso poder de voz diante das trágicas, polêmicas e vergonhosos discursos produzidos por aqueles que assumiram as mais altas instâncias governamentais? Como não ser (ou fazer) política neste cenário? Como não consolidar e defender a Res publica. O CCH entende que muitos serão os desafios mas que estará atento e forte questionando e resistindo sempre aos discursos simplistas e rasos usados para justificar a desigualdade, a violência e nos levar à resignação.

Conselho Departamental e Câmara de Ensino do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCH


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